quarta-feira, 4 de maio de 2011

Grupo de Estudos em Reggio Emilia (Fevereiro de 2011)



 * Morgana Pereira Neves


O encontro com a cidade de Reggio Emilia e com as escolas de lá provocou em mim encantamento.  Fiquei atenta a todos os detalhes, a tudo que escutei, vi e senti. Os diálogos promovidos nas apresentações sobre a história, a cultura e a realidade local foram inspiradores. Ouvimos de Carla Rinaldi (presidente da Reggio Children):
As crianças nos empurram a questionar as certezas colocadas.  Incerteza não quer dizer sem certeza, o “in” quer dizer movimento e não inseguro, fechado, sem saída. Se não há incerteza, não há possibilidade.
Essa fala me fez pensar na percepção que tenho da forma que alguns educadores concebem a sua prática e me auxiliou a questionar meu próprio olhar. Muitas vezes percebo, e questiono, a necessidade de controle sobre as crianças e sobre a rotina; o planejamento muitas vezes rígido e sem possibilidade de acolher as contribuições e o movimento das crianças.
Ficou forte na fala de todos que Reggio quer apresentar os entusiasmos , pesquisas e esforços da proposta que tem como centro a criança e as famílias; Reggio não quer apresentar modelos. Isso me faz pensar na necessidade de valorizarmos o que é nosso, de conhecer mais sobre nossa história, nossas tradições, nossa cultura e claro questionar nossa realidade.
Os adultos que estavam ali empolgados contando de sua prática transmitiam e relatavam que o olhar deles é um olhar que valoriza antes de olhar o que a criança não sabe.
Em um diálogo mais específico sobre a estética, relacionada à aprendizagem, ficou claro a importância da figura do atelierista e da relação com a arte. O discurso foi marcado pela frase “Uma pedagogia que luta contra o tédio” e pela preocupação dos integrantes do contexto de aprendizagem não se habituarem à “feiura”. Claudia Giudici e Vea Vecchi relataram que as escolas estão em pesquisa permanente de inovação e que a referência às 100 linguagens da criança sintetiza que existe diferentes  modos da criança representar, comunicar e expressar o pensamento.  O uso da arte vem como ruptura do pensamento acomodado, a arte incrementa a maneira de ler as produções das crianças.
Um questionamento que surgiu de uma das participantes foi referente ao contexto diferente de nossas escolas, não contamos com um profissional com o papel de atelierista, o que fazer? A resposta foi que o pedagogo, o professor pode proporcionar de alguma forma experiências nesse sentido. Em Reggio as professoras são formadas para fazer coisas diferentes, não só “dar aulas”. Isso me fez refletir que o educador, de uma forma geral, precisa ampliar seu olhar e seus interesses, precisa de um toque de pesquisador, de sede em conhecer coisas novas e diferentes e consequentemente dividir isso com as crianças.
Outro ponto forte de tudo que vi foi o trabalho em pequenos grupos nos espaços da escola. Acredito que isso contribui muito para a organização, concentração e envolvimento das crianças com o que faziam, seja esculturas de argila, descobertas da escrita, brincar de casinha, recolher gravetos no jardim da escola, etc. Elas estavam desacompanhadas de um adulto, grande parte do tempo, mas muito tranquilas e centradas.
Retornei entusiasmada e com sede em estudar mais e olhar mais atentamente para o meu espaço de trabalho. Olhar para o que ele tem de encantador e dar visibilidade a isso.

                                                                              *Morgana Pereira Neves é pedagoga e coordenadora pedagógica da Escola Navegantes - Uberlândia - MG