domingo, 21 de março de 2010

Um breve diálogo entre Arquitetura X Pedagogia

* Maria Carolina Rodrigues de Oliveira




      Viajar para Reggio Emilia era um sonho pra mim... Ver tudo de pertinho... As pedagogistas, atelieristas, as crianças, os espaços... O engraçado é que ainda é um sonho, porque pude ficar num paraíso educacional durante uma semana desfrutando de coisas maravilhosas, conhecer pessoas maravilhosas, de encher os olhos de lágrimas, conhecer uma cidade encantadora debaixo de neve (o que a deixou mais encantadora ainda) de apaixonar-me cada vez mais pelo que acredito: educação! É tão intenso o que sinto e senti que não tenho certeza se escrever vai ser a melhor forma de expressar minhas aprendizagens. Ah como seria bom que inventassem uma maquininha que capta os sentimentos e a imensidão deles para poder passar tudo o que gostaria... De qualquer maneira, arrisco-me a algumas palavras. Que elas sejam incentivadoras àqueles que ainda têm dúvidas do poder da educação.

Dentro do contexto reggiano pude ver – e não só ver; ouvir muito – sobre o diálogo da arquitetura e a pedagogia. As escolas visitadas são singulares, apesar do mesmo discurso. Espaçosas, os espaços não são hierárquicos; todos têm a mesma importância. As sessões (salas) são amplas e fazem a comunicação entre o espaço externo e o interior. São portas ou grandes janelas de vidro onde tudo e todos se comunicam. Rodeiam um espaço central, chamado “piazza”, que tem a mesma finalidade de convivência, como as praças que vemos em qualquer cidade: um lugar de acolhida.

Das escolas que visitei, uma me chamou mais atenção e me identifiquei demais com ela, não só pela concepção arquitetônica, mas pela recepção que tivemos pelas pedagogas, pelo atelierista, Lanfranco, e óbvio pelas crianças... e como me receberam bem! Brincamos muito e pude ver como elas estavam felizes (que é o que mais me importa em meu trabalho – ver crianças felizes no ambiente escolar).

Enfim, essa “Scuola delle’Infanzia Comunale Paulo Freire” é uma escola que me fez pensar em outras concepções, que talvez eu nunca tivesse tido o olhar suficiente para tais aspectos. É uma escola que foi construída com o conceito da Bio-Arquitetura, preocupada com a sustentabilidade. O telhado, por exemplo, foi feito com madeiras de florestas de reflorestamento, os espaços otimizam a luz do sol. A cozinha entra na mesma linha. Mas foi ponto de grande discussão entre os arquitetos, porque enquanto uns achavam que a mesma tinha que ser intimista, a filosofia reggiana nos mostra que a cozinha também faz parte dos projetos; logo ela tinha que ser aberta também. Sendo assim, são amplas e têm janelas de vidro para a piazza e para o espaço externo. Todos têm acesso!

Pela primeira vez pude sentir a real importância do diálogo entre a arquitetura e a pedagogia. Só estando lá para saber.

Outro ponto levantado e que reforçou as minhas crenças sobre autonomia de uma criança, também veio de um diálogo com Lanfranco sobre os riscos do espaço. Lá existem escadas sem proteções, subidas e descidas que muitos acham arriscado. Mas ele afirmou: acidentes não são raros, são raríssimos! E a resposta para isso é a autonomia dada à criança. Autonomia esta que lhe permite agir e saber como movimentar-se no espaço sem se machucar, que quando um adulto crê na criança, tudo fica mais fácil! Eu, assino embaixo!

* Maria Carolina Rodrigues de Oliveira é coordenadora pedagógica – Steps – Centro de Desenvolvimento e Educação Infantil - São Pau