quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A prática educativa de Reggio: Um olhar que atravessa "os muros das escolas"

A prática educativa de Reggio:
um olhar que atravessa “os muros das escolas”...

*Alba Bezerra



       Para compreender a prática de Reggio é preciso abrir os canais da aprendizagem multissensorial, considerando que aprendemos com a emoção, com o corpo, com a mente, com os cheiros, com os sabores, na relação com o outro, com o nosso protagonismo.
     Olhar as experiências de cada criança e os significados que dão a elas, é escutar a subjetividade de cada um, com todo o seu potencial criativo, que reflete o seu pensar sobre o mundo e a forma como estão construindo conhecimentos. É como olhar uma imagem refletida... O reflexo é daquilo que estamos vendo e não do que ainda não vemos! Mesmo que existam muitos olhares interpretativos sobre o que vemos refletido, esse reflexo gera uma zona de tensão permanente para tentarmos compreender a infância e a criança, o que é inatingível, pois como disse Alfredo Hoyellos: “temos tentado compreender a infância várias vezes… Porém, quando acreditávamos que tínhamos encontrado respostas, nos diziam que não. Outra vez voltamos ao começo sabendo que as múltiplas infâncias são inalcançáveis.”
     Esta passagem reafirma o potencial criativo das crianças e a sua capacidade de surpreender-se e de nos surpreender. Por isso, quem se inspira em Reggio para desenvolver a sua prática educativa, percebe a importância de termos uma ação coerente com a nossa forma de ver a vida, que é enriquecida no diálogo com muitos educadores (professores, familiares, cozinheiros, arquitetos e toda pessoa disposta a trocar pontos de vista) que dão visibilidade a este paradigma filosófico através do seu acolhimento, na qualidade estética das relações, na forma de pensar e organizar ambientes onde todos se sintam bem.
     Dar visibilidade a este diálogo permanente e traduzi-lo em ações, é dar a oportunidade para que todos exercitem o olhar relativo, percebendo que os olhares são sempre interpretativos e que para compreender essa realidade é saber que “cada ponto de vista é apenas a vista de um ponto”, como nos disse Leonardo Boff.
    Nesse sentido, estabeleço a relação com um dos aspectos normativos da semana de estudo: não tirar fotografias! Para mim, ficou claro que além de preservar a imagem da criança, uma força em Reggio é o diálogo com as nossas ações. Para quê registrar uma realidade pré-existente, na tentativa de reproduzi-la ou dizer que somos de vanguarda nas nossas escolas, se não compreendemos a concepção educativa do que estamos vendo? Copiar mobiliários, formas de organização dos ambientes, documentações de projetos... Significa saber ter uma escuta sensível e promover oportunidades para que a subjetividade e a criatividade de cada criança flua e revele todo o seu potencial? Onde fica a nossa história e o nosso contexto?
     Não basta tirar fotografias! É importante pensar em qual fotografia e o que exaltar na imagem. A imagem precisa ser um reflexo das nossas crenças, valores, ideias. A nossa forma de interpretar o que sentimos, pensamos e fazemos.
     Manter um diálogo com as diferentes formas de interpretar o sujeito, a sua história e a sua cultura, dá trabalho. Por isso, educar é uma ação revolucionária, transformadora. Quando nos abrimos para esse diálogo, abrimos nossas forças e fragilidades com a crença de que educação e o saber não se compra e nem se copia, mas se constrói! Se constrói numa relação entre educar o cidadão e a cidadania.
     Em Reggio, educar é sempre um caminho e não um fim. Um caminho interpretativo de que o OUTRO SOMOS NÓS! Nessa reciprocidade, uma certeza: o diálogo continua numa incansável busca por uma vida digna para todos e um mundo mais sensível e justo.



*Alba Bezerra
REDSOLARE Brasil
SECULT/ BA
Coordenadora da Escola Colmeia